quinta-feira, 19 de abril de 2012

Líder do grupo evangélico que organiza protestos na Marcha para Jesus afirma que a igreja se tornou “negócio”

O idealizador do movimento “Evangelho Puro e Simples”, pastor Paulo Siqueira, participou do Fórum Nacional de Música Gospel, realizado no Salão Internacional Gospel e explicou o motivo da sua iniciativa de protestos em grandes eventos, como a Marcha para Jesus e o Congresso de Louvor Diante do Trono.
Em uma entrevista ao The Christian Post, Siqueira afirmou que o início da crise contra a qual ele protesta se deu no caso Estevam e Sonia Hernandes, que tentaram entrar nos Estados Unidos com dinheiro não declarado escondido em uma Bíblia: “Não é assim, a igreja não pode ficar passiva diante um ato desses. Devemos levar ao debate, isto não é o evangelho”.
Siqueira lamenta a passividade da igreja no caso, pois segundo ele, “em vez de refletir, ao contrário, a igreja não se importou. A igreja brasileira está em uma crise ideológica”.
Para o pastor, a volta ao “evangelho puro e simples” é algo que deve ser visto como uma releitura da abordagem que as igrejas evangélicas fazem. “Voltar ao que Jesus pregou. A igreja deve responder pela sua responsabilidade social, e às responsabilidades no mundo”, e emenda dizendo que a igreja se tornou empresa: “Hoje temos cursos de administração eclesiástica, porque a igreja tem que ser administrada, mas lamentavelmente, administrada como um negócio”.
O pastor Paulo Siqueira entende que o crescimento econômico do país, aliado ao crescimento numérico da população evangélica fez com que lideranças saíssem da realidade: “A prova disso é que muitos evangélicos que jamais estariam no mercado secular de música, hoje estão neste mercado secular de forma totalmente natural. O que seria tratado como absurdo por muitos músicos antigamente, hoje é tratado de uma forma totalmente natural”, frisa.
Um dos slogans usado por ele, “o $how tem que parar”, se justifica pois os artistas e pastores banalizaram a celebração: “É preciso diferenciar a música que adora a Deus e a música que vende no mercado. A igreja deve ser respeitada. No momento do culto, nós nos achegamos a Deus”.
Confira abaixo a íntegra do discurso de Paulo Siqueira durante o Fórum Nacional de Música Gospel, em que ele fala sobre a música gospel, a bancada evangélica e o que ele entende em relação à essência do cristianismo:
A IGREJA BRASILEIRA PRECISA RECUPERAR SUA IDENTIDADE
Boa noite a todos, tenho a partir de agora poucos minutos para disperta-los para uma grande preocupação: a renovação da igreja desafiada constantemente pela modernidade.
A igreja não é um fim em si mesma. Ela está a serviço do reino de Deus, da evangelização, do anuncio da Boa-nova de Jesus Cristo. Isto quer dizer que uma autêntica revisão da missão da igreja remete sempre a Jesus. Em épocas de crise, é ainda mais necessária a referencia continua a Jesus Cristo. Seguir fielmente o caminho percorrido por ele é indispensável para que a igreja possa superar, evangelicamente, os graves impasses com que hoje se defronta.
Pontos de Crise
1) – Sabemos que uma das graves deficiências é precisamente a precária apresentação de Jesus Cristo e da boa-nova por Ele anunciado e vivida. Por isso mesmo, o povo evangélico vem sofrendo uma “fome crônica” do Evangelho. A rica religiosidade de nossa gente não é suficiente para matar a fome, nem saciar a sede da palavra viva de Deus. Mal alimentado com o leite ralo, de uma evangelização frequentemente superficial e fragmentada o povo encontra-se sub nutrido, também em relação ao alimento da palavra de Deus. As pregações são apresentadas com uma orientação cristológica inadequada. Apresenta-se um Cristo distante, perdido num emaranhado de palavras e de idéias incompreensíveis, trata-se de uma apresentação incapaz de “tocar” o coração das pessoas e incapaz de provocar uma verdadeira conversão pessoal e comunitária. Pois o Cristo apresentado é primeiramente religioso, desvinculado da vivencia cotidiana, da história do povo.
“ Com isto temos uma igreja perdida em sua identidade”.
Muitos estão a perguntar o que é a igreja?
Esta é a questão não resolvida para o protestantismo, desde os dias da reforma.
Para muitos a igreja é :
- casa de oração;
- casa de entretenimento;
- clube social;
- partido politico;
E hoje para muitos, um pouco de tudo isto, pois a igreja se tornou uma casa de show.
Por conta da perda da identidade a igreja se distancia de suas essências e de sua história. Hoje a igreja é gerida por fundamentos muitos mais externos que internos, com isto ela é mais mística, mais magica, que espiritual. Pois se utiliza de artifícios casa vez mais profundos no sentido do entretenimento, pois tudo gira em torno do “show”. Isto é fruto do gospel americano. Os brasileiros assim como em todo o mundo evangélico foram levados por está “onda”, em meio a está crise de identidade. O gospel americano tem sua história, poucos foram os lideres que foram buscar as bases deste movimento, com isto tudo o que recebemos foi uma avalanche de mudanças que foram desastrosas para nossas bases históricas. Com o movimento gospel nasce formas de cultos que transforma o cenário religioso do pais. A igreja ganhou força na música, e a liturgia se transformou, pois outros elementos foram acrescentados. Nasceu a figura do líder de louvor, dividindo a liderança do culto juntamente com o pastor. Com o tempo o pastor passou a ser mais um no culto, pois com a explosão gospel a música se tornou o grande foco. A pregação da palavra ficou em segundo plano. Com o gospel surge o segundo ponto de crise: o pastor profissional.
2) – A igreja como sujeito da história não quis ficar para traz na modernidade. Com o avanço do gospel, elementos de religiosidade se tornam produtos, a música, o fiel, o culto, o sagrado, todos são elementos a serem explorados, pois o gospel dá a igreja elementos para concorrer ao mercado religioso. O gospel transforma a igreja em mercado, e um mercado muito lucrativo, e pouco explorado. Com este mercado a vista nasce a figura do “pastor profissional”, ou seja o homem de Deus capacitado para orientar e administrar este mercado.
O que muitos não esperavam que com este mercado a igreja sofreria grandes transformações. Pois com isto nasce a igreja como entretenimento, com uma roupagem nova, “mais moderna”. O gospel trouxe a linguagem comercial para a igreja, e com isso a igreja além de ser uma fonte de entretenimento também se tornou comercial; Os fieis agora são clientes a serem conquistados, a serem alcançados pois cada cliente novo é sinônimo de crescimento. As igrejas ganharam metas a serem atingidas, e o que era um sacerdócio agora é um mercado. Com isto nasce a igreja para divertir.
É o evangelho para divertir, é o evangelho da vitória, é o evangelho do milagre, da benção. Todo o discurso vem de encontro ao “cliente”. Tudo é produzido para o lazer e nada melhor do que a música para este lazer ficar completo.
Com isto a igreja evolui fora do religioso, temos o nascimento de um dos pontos mais sérios dentro da crise de identidade do cristianismo brasileiro. Com tantas transformações nasce a secularização, pois o secularismo ensina a igreja que não há limites para se atingir seus alvos. Temos assim uma igreja pragmática, materialista, consumista, e acima de tudo sem definição, sem forças para definir o que é sagrado, o que é profano. O materialismo faz com que a igreja perca seu referencial humano. Pois o humano é uma pedra para quem quer avançar no contexto da competição, pois o mercado é desumano.
O amor ao próximo retorna ao mero discurso. O sagrado só tem significância na mediação do espetáculo religioso.
O duo consumo-entretenimento, é o aspecto conformado da cultura do mercado. A igreja agora é casa de “espetáculo”, é preciso consumir, mais também ser feliz, ser vitorioso, e com isto vem a busca desenfreada pelo material. E isto é conquistado com desafios materiais, ou seja quando mais você der, mais Deus vai te retribuir. Igreja, culto, música, pastores, bíblias são hoje fontes de mercado, e todo contexto transformou cada elemento do culto em um produto de consumo, neste imenso fest-food da fé, a barganha é a moeda de troca para aqueles que querem ser felizes com Jesus.
Nasce o culto aos números, a aparência, aos elementos materiais. Pois um povo vencedor com Jesus, tem dinheiro, se veste bem, tem bons carros, mora em um bom imóvel, se fica doente Jesus cura, pois tudo é vitória em Cristo, desde que você esteja sempre com algo as mãos para “barganhar” com Deus.
Com isto os números são importantes, pois o povo, os ouvintes são consumidores do mercado gospel. Sem perceber a perda de identidade, os pastores profissionais transformaram suas igrejas em uma “franquia” do céu.
O cristianismo verdadeiro, essencial, com sua história, ficam no passado. Agora temos uma nova igreja. A igreja mercantilista contemporânea. Com o avanço do gospel, também temos o avanço da teologia da prosperidade, que se tornou o discurso do mercado gospel.
Nasce assim a igreja movida pelos teles pastores, e seus produtos para a felicidade, são livros, cds, óleo, e até homens e mulheres a sem conquistados como produtos para uma verdadeira felicidade.
Na teologia da prosperidade tudo é rápido, pois quem “paga”, não pode esperar. Sem perceber tudo se tornou líquido, nada pede aprofundamento, tudo tem que ter emoção e lagrimas, porem nada precisa ser fundamentado na palavra de Deus.
Temos o louvorsão, em forma de shows gospel, as grande cruzadas, onde o espetáculo é o grande foco, pois para alimentar tudo isto é preciso de mídia e acima de tudo muito dinheiro. No gospel o grande patrocinador é a teologia da prosperidade, pois num mercado onde fieis são consumidores, o dinheiro é o grande veiculo da benção. Neste processo o dinheiro se torna personagem principal em toda mídia quando a noticia é o mundo gospel e seus lideres.
A igreja “moderna” sucumbiu diante das tentações do mundo. O que Cristo recusou e rebateu com a palavra em sua tentação no deserto, hoje muitos lideres e seus ministérios aceitam e praticam o cristianismo do espetáculo.
O cristianismo onde Cristo é a marca registrada, é o produto a ser explorado.
O cristianismo onde a pessoa de Cristo nada tem haver com o ser humano. O grande interesse é mercadológico, e diversos produtos ganham suas versões cristológica, é agua, é refrigerante, perfume, roupas, salames, queijo etc.
A igreja se insere no gospel, sem perceber que o mercantilismo leva a igreja para um grande laço, pois dentro deste mercado o importante é o lucro, e lucro desenfreado e desumano, pois transforma o ser humano em um produto a ser explorado.
3) – Porque o $how tem que parar ?
Porque no show não há compromisso, tudo é líquido, não há fundamentação. A igreja não quer perder, quer estar em competição com o mundo. Muitos são os lideres que se perderam nesta ganancia desenfreada no mercado gospel.
“Que relação tem um pastor que coleciona cavalos de raça, e a bíblia?”
O mercado é desumano, porque sua essência esta na competição, não há espaço, para misericórdia, amor, pontos centrais da cultura cristã.
A igreja de Cristo se fundamenta na humanidade, pois o próprio Cristo se fez ser humano e habitou no meio de nós.
“Cristianismo e luxo são palavras antônimas”.
A igreja precisa responder ao sofrimento do mundo, mais com armas espirituais, a igreja deve ser voz profética em meio ao caos humano. A igreja tem a mensagem de esperança, para isto seus lideres precisam ser conhecidos pela sua simplicidade, pelo seu carisma, pelo seu conhecimento, por seus atos de fé e solidariedade em prol dos pobres e os que sofrem.
Onde o pecado abunda a graça de Deus transforma, está é a mensagem do evangelho.
A igreja tem que assumir sua responsabilidade social, precisamos ser reconhecidos por uma fé cidadã, a igreja precisa ser reconhecida por sua luta em prol da verdade, da justiça e da paz. Não podemos ser reconhecidos simplesmente por ser uma grande numero de votos. Temos que ser o povo do amor ao próximo, o povo reconhecido pela honestidade de seus lideres, o povo que veio ao mundo para assim como Cristo cumprir a missão de Deus.
Somos o povo que vai morar no céu mais a porta é Jesus Cristo, mais não vamos para lá mediante pagamento humano, pois o grande preço já foi pago.
Pois coube a Deus dar seu único filho em amor e remissão dos nossos pecados.
Não há salvação sem remissão de pecados, e isto dinheiro nenhum no mundo compra. Não milagre maior do que um ser humano reconhecer o senhorio de Cristo em sua vida.
Muitos lideres não se apercebem que sua teologia materialista influencia ao mundo, é só avaliarmos a corrupção, a violência, o famoso geitinho brasileiro que todo o mundo conhece. Precisamos ser o povo reconhecido no mundo por nossa fé, por nossa honestidade.
“Lamentável saber que muitos lideres evangélicos brasileiros são conhecidos no mundo afora por sua desonestidade, por suas mentiras, por suas heresias pregadas em contra-ponto ao evangelho de Cristo”.
Este é o grande desafio do Movimento pela Ética Evangélica Brasileira, trazer o debate, trazer a luz o verdadeiro evangelho de Cristo. Dizer a todos que a igreja de Cristo é para um mundo que sofre. Denunciar o falso evangelho dos pregadores da teologia da prosperidade, que transforma o ser humano em objeto a ser explorado, para saciar a sede e ganancia de lideres, em sua desenfreada vaidade de consumir e viver os valores deste mundo. No evangelho de Cristo o maior é aquele que perde, é aquele que serve ao próximo mesmo que para isto perca sua vida. No evangelho de Cristo somos chamados a viver longe das tentações do mundo material, do mundo mágico, místico, somos chamados a viver na verdade, longe da mentira das armações e falcatruas do mundo.
Porque a igreja não pode lutar pelos que sofrem? Porque se aliou ao mundo, aos corruptos aos que produzem o sofrimento dos pobres. Hoje temos milhões de pessoas sofrendo e esmagadas pela corrupção enquanto homens e mulheres que juraram lutar pelos que sofrem se aliam a maldade deste mundo. É preciso acrescentar ao vocabulário evangélico brasileiro palavras como amor ao próximo, caridade, solidariedade, compaixão, misericórdia, eucaristia, simplicidade. Palavras que venham substituir os chavões da teologia da prosperidade, para que muitos venham ter seus olhos abertos para as verdades da vida.
Pois a palavra “conhecereis a verdade e a verdade vós libertara…” (Jo 8:32), Jesus disse aos fariseus, que acreditavam ser os donos da verdade, porem foram advertidos por Jesus, para que abrissem seus olhos para a verdade, e não seguissem cegos em sua religiosidade e em sua união de mentiras com o mundo.
Que não sejamos lembrados pela mídia por divisões, escanda-los, vergonha diversas, mas que sejamos lembrados por nossa sinceridade, por nossa luta pela justiça em prol dos pobres e pequeninos na fé. Que sejamos lembrados pela luta da paz, pela união dos povos, pelo dialogo com os diferentes da fé.
Que sejamos lembrados pela busca continua de uma espiritualidade inspirada pela revelação da palavra de Deus, que sejamos lembrados por nossa busca continua do entendimento. Que sejamos proclamadores da liberdade, pela fé.
Que sejamos o povo da bíblia, que vive e faz a vontade de Deus, para sua Gloria.
“O que dizer dos políticos da chamada bancada evangélica”
Temos a missão de ser sal e luz para o mundo mais seduzidos pelas tentações, deixamos de lado os valores cristãos para saciarmos nossas vaidades. O desejo material tem cegado a muitos lideres, que mesmo em meio a vergonha de muitos escanda-los não se arrependem de seus atos. Não vamos nos calar, mesmo que isto custe nossas vidas, não adianta ameaças, não adianta violência, não vamos parar. Vamos prosseguir.
Para isto vamos emprenhar nosso slogan em todo canto deste pais:
“VOLTEMOS AO EVANGELHO PURO E SIMPLES, O $HOW TEM QUE PARAR”.
Hoje já somos vários grupos em varias cidades do Brasil, nosso movimento cresce por força do Espírito Santo, pois é inexplicável o empenho de muitos que estão tendo seus olhos abertos para perceberem o falso evangelho que está sendo pregado.
Vamos continuar nosso trabalho que é árduo, solitário, porem vamos ser a voz profética de nossos dias, pois Cristo vive, e veio salvar e libertar todos que estavam perdidos.
Está é a boa nova a ser anunciado em todo mundo.
Fiquem na paz.
Deus abençoe,
Paulo Siqueira

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