quarta-feira, 3 de outubro de 2012

“Estou vivo por um milagre”: pastor sobrevivente de massacre do Carandiru conta testemunho

No aniversário de 20 anos do episódio conhecido como “Massacre do Carandiru”, um ex-detento que estava preso sem julgamento por suspeita de roubo a uma residência de luxo, contou seu testemunho de sobrevivência ao ataque dos policiais durante a rebelião do dia 02/10/1992.
Atualmente pastor, Jacy Lima de Oliveira era um dos detentos entre os mais de 8 mil que eram mantidos na chamada “Casa de Detenção”, à época considerada o maior presídio da América Latina e apelidada de Carandiru devido à sua localização, num bairro homônimo da capital paulista.
Segundo o pastor Jacy, que hoje é pai de dez filhos, não estar entre os 111 mortos que oficialmente fazem parte da lista dos assassinados durante a ação da polícia, é questão de milagre: “Eu tive um privilégio, que tenho pra mim como um milagre, porque muitos que passaram ali, como eu, morreram a facada, a tiro a queima roupa na cabeça. Eu passei no corredor da morte duas vezes. Descendo em direção ao patio e voltando. Subiram na minha frente umas 80 pessoas e eu ouvi o grito da morte delas”, relata o ex-detento.
O sofrimento dos detentos e o tamanho da barbárie não foram esquecidos pelo pastor: “Eu sobrevivi, eu vi a história, eu pisei em sangue que dava quase na canela, e isso não é exagero, não! Ouvi gritos que até hoje ecoam na minha mente”, afirma Jacy, que ilustra o que passou de forma bastante enfática: “Foi um inferno na Terra, estou vivo por um milagre”.
Durante a entrevista concedida ao portal G1, Jacy Lima de Oliveira visitou o local onde havia o complexo de pavilhões da Casa de Detenção e afirmou que estar de volta ao lugar onde viveu o terror o traz felicidade: “Quando venho aqui eu me sinto livre, feliz de estar vivo. E me sinto também muito triste por saber que aqui morreu muita gente, e que os crimes estão impunes. Na verdade isso aqui é um tapete em cima de um grande montão de sujeira”, afirma, referindo-se ao Parque da Juventude, que ocupa o local do antigo Carandiru, parcialmente desativado e demolido em 2002.
Segundo o pastor, em breve ele publicará um livro sobre os momentos vividos durante a rebelião que levou ao massacre. O título do livro será “Eu sobrevivi para testemunhar o massacre do Carandiru”.

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