Palestrante na Audiência, a psicóloga Marisa Lobo afirma que a proposta do deputado Campos tem por objetivo defender o direito dos homossexuais buscarem ajuda caso julguem necessário em sua condição.
- É muito fácil jogar a responsabilidade na religião, na sociedade e na família. Deixa a pessoa ter o direito de ser tratada. – frisou a psicóloga.
Para Wyllys, a proposta é baseada apenas em preconceitos religiosos e o tratamento proposto por profissionais como Marisa Lobo são, na verdade, formas de tortura psicológicas. O texto publicado no site do deputado afirmou ainda que a discussão sobre a possibilidade de tratamento para homossexuais é uma questão já encerrada pela Organização Mundial de Saúde, e ironizou afirmando: “Se aplicarmos esse mesmo critério para outras situações do mesmo tipo, o Congresso poderia aprovar um decreto legislativo que autorizasse os oncologistas a tratar o câncer com suco de limão, ‘curar’ a negritude ou usar como remédios substâncias venenosas”.
- Retomar a discussão sobre a homossexualidade ser ou não uma doença é um absurdo do mesmo tipo que seria retomar a discussão sobre se o sol gira em torno da terra – criticou o deputado, ao dizer que tal assunto já é tido como encerrado na comunidade científica. Ele afirmou ainda que possíveis desajustes psicológicos diagnosticados em tais pacientes seriam decorrentes de traumas sociais.
Para dar força a seu discurso, Wyllys comparou a discussão sobre o homossexualismo a teorias discutidas no passado de que negros tivessem pré-disposição ao crime.
- Graças ao ativismo dos negros, organizados politicamente num movimento, esse aparato conceitual disfarçado de ciência foi desmascarado, e hoje a gente fica envergonhado de imaginar que um dia já se defendeu isto. – afirmou o deputado, ao comparar os movimentos de luta pelo direito dos negros, que marcaram a história do Brasil, ao atual ativismo LGBT.
Leia na íntegra o pronunciamento do deputado:
Primeiro ponto. Eu me questiono qual o objetivo de um deputado que foi delegado da Polícia Federal, e que está ligado muito mais a esse universo, propor um projeto de decreto legislativo que suste pontos de uma resolução do Conselho Federal de Psicologia. Que interesse pode ter este parlamentar em se meter nesta história, a não ser se a gente levar em conta o fato deste parlamentar também ser evangélico. Ele está, na verdade, respondendo a pressões de pessoas das relações dele e dos interesses dele. A gente não pode deixar de levar isto em conta.
O PDL, do ponto de vista jurídico, não se sustenta, porque o legislativo não pode sustar atos e resoluções que não inovem no ordenamento jurídico. Outro ponto a levar em conta é que a homossexualidade não é crime, o nosso código penal não criminaliza. Então p PDL não se sustenta do ponto de vista constitucional.
Vamos ao mérito. Eu fiquei constrangido com a fala da única pessoa que falou neste âmbito, que foi a psicóloga Marisa Lobo, pela falta de sustentação teórica, de argumento. Me constrange porque houve um tempo em que Cesare Lombroso influenciou muitos cientistas brasileiros, um deles, Nina Rodrigues, com a teoria do “criminoso nato” e a medição de crânio, pra dizer que negros tinham propensão inata à criminalidade. Esta é uma mentira, que por muito tempo foi mascarada de ciência e assim sustentada. Graças ao ativismo dos negros, organizados politicamente num movimento, esse aparato conceitual disfarçado de ciência foi desmascarado, e hoje a gente fica envergonhado de imaginar que um dia já se defendeu isto.
O mesmo aconteceu com a homossexualidade. O discurso científico serviu por algum tempo à desumanização dos homossexuais, na medida em que a homossexualidade foi considerada como doença, mas a comunidade científica reviu isto, entendeu que a homossexualidade é uma orientação sexual, uma expressão da sexualidade humana, tanto quanto é a heterossexualidade — um sentimento profundo de si, do desejo, portanto não é doença.
É importante salientar que o sujeito é um sujeito histórico. Ele tem uma posição histórica, está materializado na história. A gente não pode desprezar esta história na formação do sujeito e da cultura. E nós, homossexuais, nascemos numa cultura homofóbica que não nasceu agora, uma cultura que vem sendo reproduzida por diferentes aparatos conceituais, ou seja, uma cultura que coloca o homossexual como subalterno, do ponto de vista subjetivo e do ponto de vista jurídico. Nosso ordenamento jurídico exclui o homossexual de uma série de direitos.
Quem nasce nesta cultura e é injuriado desde criança, quando começa a expressar seus afetos, seus sentimentos, é claro que terá um sentimento de si negativo. É claro que esta pessoa terá um sofrimento psíquico, em relação à sua orientação sexual. Ela vai ter, portanto, egodistonia. Mas se alguém desenvolve egodistonia porque vive numa cultura homofóbica, que rechaça e subalterniza a homossexualidade, é claro que a postura ética de um profissional da psicologia será colocar o ego em sintonia com o seu desejo. Então o homossexual que por ventura procurar o psicólogo para falar do sofrimento psíquico que ele passa por viver nesta cultura homofóbica, deveria ter do profissional, que é ético, dizer para ele que o melhor caminho é colocar o seu ego em sintonia com o seu desejo. Portanto, é assumir para si o seu desejo. É sair da vergonha para o orgulho, passar a experimentar a si como pessoa inteira. E aí vai acabar o sofrimento. Não reforçar esta egodistonia por meio de discursos com fundo religioso.
Eu faço uma pergunta: se é possível reorientar sexualmente uma pessoa, pergunto à psicóloga: ela já recebeu alguém heterossexual pedindo para ser homossexual? E qual vai ser a postura diante disto? Qual será a postura ética deste profissional? O problema da psicóloga com a atual gestão não pode entrar em questão. O CFP diz que a orientação sexual faz parte da diversidade, e tem que ser respeitada como tal, e não “tratada”.
É importante lembrar que a psicóloga diz que é contra a violência contra os homossexuais. Eu acredito que você seja realmente contra a violência dura que se abate contra os homossexuais. Mas a violência tem muitas formas, existe uma coisa chamada violência simbólica, que se abate sobre os homossexuais antes da violência dura, que o Estado, inclusive, usa contra os homossexuais na medida que os exclui de direitos, e faz parte desta violência o conjunto de discursos que demonizam, desumanizam e desqualificam os homossexuais, que não dão a eles o direito e oportunidade de experimentar a sua sexualidade. É violência oferecer um tratamento da egodistonia que na verdade reforça a egodistonia, e que mascara um proselitismo religioso, pois todos os argumentos utilizados para convencer a pessoa de que ela pode se curar são religiosos e partem da crença de que a homossexualidade é um pecado.
E é muito fácil recorrer ao discurso do cerceamento da liberdade de expressão, que é um discurso que se recorre sempre que há uma manifestação contrária a esta violência simbólica. Eu fico pensando se estas pessoas gostariam que os homossexuais, como no passado recente, ouvissem calados estes descalabros, sem reagir. Quando reagem, o discurso de cerceamento da liberdade de expressão aparece.”
Tire o seu racismo do caminho, que eu quero passar com a minha cor. ( do livro Desaforismos de Georges Najjar Jr )
ResponderExcluirEu li esse Livro ja meu irmão e agradeço o comentario paz do senhor jesus
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